30/5/2016 às 00h10
Dois mundos, uma realidade: consulesa da França relata infância no gueto a menores infratores
Para Alexandra Loras, "potencial rebelde" dos adolescentes deve ser usado como talento
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Texto: -A +A
Giorgia Cavicchioli, do R7
Consulesa contou sua história de vida para os meninos da fundaçãoLaureen Mello/Divulgação
Um
portão. Dois portões. Um pátio grande em que é preciso acelerar o passo
para chegar rápido até o próximo portão. Dentro dele, mais uma espera
até que o terceiro portão se feche para que seja aberto mais um portão.
Depois disso, é preciso andar mais um pouco. Mais um pátio. Esse tem
pequenas salas que parecem caixas beges com portas e janelas amarelas.
Porém, as portas e janelas não são como as de outras salas. As portas
têm cadeados. As janelas? Apenas furinhos.
Dentro de uma dessas
salas uma mulher da elite conversa com cerca de 20 meninos que cometeram
erros e foram parar na Fundação Casa. A cena é inusitada, mas os
personagens desses dois mundos têm algo que os aproxima: a realidade de
onde vieram. Na última terça-feira (24), a consulesa da França em São
Paulo, Alexandra Loras, foi até o Centro de Atendimento Socioeducativo
João do Pulo, na Vila Maria, em São Paulo, para dar uma palestra sobre
racismo e meios de lidar com a discriminação racial.
Alexandra
contou um pouco de sua história para os meninos e disse que “para ser
bom, todos precisam da sombra”. Ela procurou incentivá-los a fazerem
escolhas diferentes das que a sociedade impõe para eles. Segundo
Alexandra, quando quis um lugar melhor, uma “voz interna” dizia que ela
não poderia realizar os seus sonhos.
— "Você é negra, você é da
periferia". Quando comecei a lutar contra essa voz comecei a ter outros
resultados. A sociedade tinha me marcado como mulher, como negra. Estou
segura de que vocês têm a parte da rebeldia que é muito poderosa.
A
consulesa nasceu na periferia parisiense e diz que tinha uma família
“disfuncional”, mas se formou jornalista e cientista política e foi
apresentadora de TV na França. De acordo com o membro da diretoria
técnica da fundação José dos Santos Filho a presença de uma pessoa “de
carne e osso” e que venceu mesmo frente às dificuldades faz com que os
meninos tenham mais esperança no futuro depois de saírem de lá.
—
Na medida em que eles olham uma pessoa negra, bonita, culta, um ser
humano que venceu, mostra que o caminho é estudar e se valorizar.
De
acordo com ele, a visita da consulesa faz parte do programa Quesito
Cor, que discute questões relativas à diversidade étnico-racial dentro
da fundação. O percentual de meninos negros que estão lá chega a quase
70%. Santos diz que é feita “uma série de atividades para que se resgate
a auto estima dessas pessoas”.
Pensando nisso, Alexandra mostrou
para os meninos que eles podem tentar mudar essa realidade imposta pela
sociedade que já quer delimitar o espaço deles. Ela mostrou vários
dados que comprovam como o racismo está enraizado na sociedade e como é
difícil mudar essa realidade.
— Nós podemos fazer coisas para
mudar nossa sociedade. É com essa geração que a gente vai mudar a
sociedade. Vocês são o futuro da sociedade. Vocês já são líderes de
opinião por não se colocar no sistema. Começa a enxergar que o seu
potencial rebelde mostra o poder que vocês têm. Como você pode colocar
nessa força, nesse talento, em um desafio que pode fazer parte de um
plano?
Durante os questionamentos de Alexandra, os adolescentes
se mostravam um pouco tímidos e com vergonha de fazer perguntas e
interagir com ela. Porém, com o tempo, ela foi ganhando a confiança dos
meninos, que faziam observações e perguntas de como fazer o programa de
Au Pair, por exemplo, depois de a consulesa contar como foi sua
experiência na Alemanha trabalhando como babá e ganhando seu próprio
dinheiro aos 17 anos. O grande medo deles era não conseguir ser acolhido
em uma família pelo fato de terem passado pela fundação. Porém, ela
disse que isso não é nenhuma barreira para entrar na área e que é
preciso apenas estar interessado e falar inglês. Aliás, a grande
recomendação dela para os jovens foi a de aprender a língua.
— Eu já não aguentava mais minha família disfuncional, o preconceito. É um sistema de babás que tem também para os homens.
Outro
momento em que os adolescentes se interessaram pela palestra foi quando
ela disse que empresas francesas no Brasil estão procurando por
diversidade em suas companhias. Olhando para os meninos e aproximando a
mão ao coração, Alexandra disse: “eu quero ajudar vocês, mas vocês têm
que me procurar”. Segundo ela, foi aberta uma “janela” para essa
comunicação, mas eles têm que “correr atrás”.
— Não pensem que vocês não merecem. Somos iguais, somos iguais. Com nossa parte única, mas somos todos aqui já vencedores.
Alexandra
mostrou para os meninos também como meditar para se sentir melhor, como
se sentir “donos dos lugares” onde estão para não se sentirem
diminuídos e como buscar inspiração em pessoas que podem ser seus
pilares para uma vida melhor.
Depois da palestra, a consulesa
disse que a atividade foi “um desafio” porque, segundo ela, existe uma
diferença entre o que você imagina que vai encontrar dentro da Fundação
Casa e o que você realmente encontra. Ela afirmou também que sentiu, no
começo, uma resistência por parte deles, como se eles se perguntassem “o
que ela vai falar aqui”?
— Foi desafiador, mas como meu pai foi
morador de rua, meu irmão pequeno caiu no crack, eu nasci no pior gueto
parisiense [...] [Quero] mostrar para eles que também vim em uma família
disfuncional. Eu sei que são pessoas e talentos. Rebeldes e líderes. Se
eles chegaram aqui eles são contra o sistema. Não é tudo ruim. Ao invés
de deixar eles se tornarem pior, a gente precisa dar apoio e
empoderamento para eles saberem que eles têm chance.
Os meninos
também ficaram bem animados com a conversa e saíram de lá falando que
“foi muito legal ver uma pessoa de fora”. Um deles disse que gostou da
conversa, pois Alexandra falou “um monte de coisa” que não sabiam.
Para
a encarregada técnica, Teresa Lupianaez, a ida da palestrante “trouxe
uma realidade que, para eles, não é vista”, pois eles “não acreditam que
podem ter um futuro lá fora”.
— São adolescentes que não diferem
dos meninos de casa. Os caminhos é que foram diferentes. Nós temos as
mesmas dificuldades. Independente disso, existe um caminho diferente que
a gente pode tentar.
Voluntários da UNIVERSAL, leva um Salão de Beleza para as famílias dos internos da Fundação CASA.
Neste último domingo aconteceu um evento na Fundação CASA, realizado pelos voluntários da UNIVERSAL.
Voluntário
Laudelino iniciou com uma oração abençoando todos internos e famílias
que estavam ali presente. falou também da importância de usar a fé
racional.
Em seguida os voluntários da UNIVERSAL que fazem parte do Projeto Beleza atenderam as famílias dos internos
No final os voluntários distribuíram a rosas amarelas simbolizando o Senhor Jesus para todas as famílias.
Os funcionários da Fundação CASA agradeceram o evento realizado pela UNIVERSAL.